
A estreia do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (24), em Nova York, atingiu o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do mundo no Twitter.
A hashtag #BolsonaronaONU, o termo UNGA (Assembleia Geral da ONU, em inglês) e “foro de São Paulo”, organização mencionada por Bolsonaro em seu discurso, foram os três tópicos mais citados pelos usuários.
Importantes personagens do mundo político se pronunciaram sobre o assunto, tanto para elogiar a postura do presidente brasileiro quanto para criticar o tom combativo que adotou em seus 30 minutos de fala.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que foi mencionado por Bolsonaro como símbolo do combate à corrupção, afirmou que a fala foi “assertiva”.
Já o deputado federal e candidato a embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), retuitou um comentário do chanceler cubano Bruno Rodríguez, no qual o diplomata afirma rejeitar categoricamente as falas de Bolsonaro sobre Cuba.
Arthur Weintraub, assessor da Presidência e irmão do ministro da Educação, escreveu que Bolsonaro “falou na ONU o que a ONU não está acostumada a ouvir”.
A fala faz referência ao trecho em que o presidente fez uma crítica ao programa Mais Médicos, chamando de “um verdadeiro trabalho escravo, acreditem, respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU”.
Críticas
Apesar dos elogios dos aliados, o discurso do presidente foi criticado por uma série de políticos e figuras públicas, incluindo o governador de São Paulo, João Doria, e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Na saída de um evento o tucano, afirmou que a fala foi “inadequada e inoportuna”, além de ter faltado “bom senso” ao presidente. “[O discurso] não teve referências que pudessem trazer respeitabilidade e confiança no Brasil no plano ambiental, econômico ou político”, disse.
O mesmo tom foi adotado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, que disse não ter assistido ao discurso, mas rebateu um dos argumentos do brasileiro.
Cerca de 30 minutos após o discurso, Macron disse que não se trata de interesse econômico na floresta, mas de pensar no futuro da região que é “um bem comum”.
“Eu estava em uma correria e não vi o discurso”, disse Macron. Diante da informação de que Bolsonaro afirmou que há interesse colonialista e de exploração da riqueza da região por parte dos que criticam o governo brasileiro, o francês respondeu.
“Eu acho que todos nós só queremos ajudar as pessoas da Amazônia. (…) Temos muitas pessoas envolvidas no (debate sobre) futuro da Amazônia e acho que o que queremos fazer é ajudar as pessoas, com completo respeito pela soberania, ajudando o povo. Não é questão de lobby ou interesse, os lobbies são para destruir a floresta para seus próprios interesses. O que nós queremos fazer é ajudar pessoas para elas mesmas e para o futuro da Amazônia, porque é um bem comum”, afirmou.
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou que o discurso “tem um potencial enorme de produzir um efeito ainda mais nefasto para a imagem do Brasil no exterior: uma vergonha globalizada”.
Entre parlamentares a principal crítica envolve o trecho em que Bolsonaro questionou a atuação do líder indígena Raoni: “Acabou o monopólio do Senhor Raoni”, afirmou.
O presidente disse, ainda, que ele é usado como “massa de manobra” por governos estrangeiros na sua “guerra informacional”.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou a fala como “deplorável”. Para ele, o presidente rompeu a tradição multilateral brasileira e errou gravemente ao atacar povos indígenas.
O líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), disse que o discurso foi “vazio de verdades, mas cheio de agressividade e cegueira ideológica”.
Organizações ambientais
Organizações ambientalistas criticaram veementemente o discurso do presidente que disse que o seu governo defende a Amazônia.
Em comunicado, o coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace no Brasil, Márcio Astrini, disse que falas foram uma “farsa”.
Para ele, Bolsonaro tentou convencer todo o mundo que o seu governo protege a Amazônia, mas o que acontece é o contrário. “Na realidade, Bolsonaro promove o desmonte da área socioambiental, negocia terras indígenas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate aos crimes florestais”, afirmou.
No mesmo sentido se pronunciou a organização ambientalista WWF, segundo a qual o discurso do presidente contrariou o próprio espírito da ONU por acentuar o divisionismo e a polarização ao apontar para inimigos imaginários e deixar de reconhecer os problemas urgentes do Brasil.
De acordo com WWF, os próprios dados oficiais mostraram uma tendência de aumento real e preocupante do desmatamento da Amazônia e dos incêndios florestais.
A organização acrescentou que, no seu discurso, Bolsonaro não demonstrou preocupação alguma com as mudanças climáticas nem mencionou o Acordo de Paris, mas deixou claro que não acredita na ciência e que não se compromete em dedicar esforços para reduzir o desmatamento e as emissões de poluentes.
“Ao quebrar a histórica liderança do país na área ambiental frente a outras nações, a sua postura acentua a preocupação internacional e dos mercados sobre a capacidade do Brasil para proteger a Amazônia e contribuir com a redução dos efeitos das mudanças climáticas”, encerrou a organização.
O Observatório do Clima afirma que o presidente “envergonha o Brasil e põe o mundo em risco”.